domingo, 30 de março de 2008

Sinto-me fria por não conseguir sofrer e chorar copiosamente com o rosto enfiado no travesseiro, como certamente aconteceria caso fosse adolescente.
Sinto-me bem, todavia, por quase sempre ser capaz de controlar minhas emoções.
A maturidade me deu esse bônus e, em contrapartida, começarei a fazer uso, este mês, de cosméticos para amenizar e prevenir minhas linhas de expressão, infelizmente já perceptíveis.
E assim, como um "velho boiadeiro, que toca a boiada", eu vou seguindo o meu caminho.
Feliz por ter um lindíssimo e saudável filho de 7 aninhos.
Boa semana para todos nós!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Definição de Felicidade

"Perguntaram a um monge budista o que era Felicidade. Ele respondeu que Felicidade é Equilíbrio.
A platéia ficou espantada, esperavam outro tipo de resposta. Quando o murmurinho passou, o monge complementou o seu pensamento:-Vocês perguntaram o que é Felicidade. Caso perguntassem o que é Equilíbrio, a minha resposta teria sido outra, mais longa. A verdade é que não existe Equilíbrio sem Felicidade, um homem atormendado nunca vai conseguir o Equilíbrio enquanto não superar aquilo que o atormenta. Tampouco existe Felicidade sem Equilíbrio, pessoas inconstantes e desequilibradas não são felizes, são histéricas, confundem alegria com Felicidade. Felicidade e Equilíbrio são como as raízes e a copa de uma mesma árvore: um não existe sem o outro.Acho que podemos aplicar esse conceito nos relacionamentos também: só vão dar certo se forem estáveis; só vão ser Felizes se o casal tiver Equilíbrio e sensibilidade no dia-a-dia.
About Last Night

"Já se conheciam a muitos anos. Foram apresentados ainda nos tempos de faculdade por um amigo em comum. Ele teve uma atração instantânea por ela, ficou encantado. Como era muito tímido, foi tentando uma aproximação sutil, disfarçada.Ela percebeu e não quis. De forma muito direta, explicou que não sentira atração. Ele num impulso tentou beijá-la e ela o repeliu. Houve um momento de constrangimento, sólido, pesado, eterno. Novamente ela tomou a iniciativa, e pintou cores coloridas naquele clima cinzento propondo uma amizade. Que fossem ao cinema, que dançassem, mas dela ele teria apenas amizade. Ele acatou.E assim foi. Durante quatro anos, foram amigos. Contavam um para o outro as enrascadas amorosas em que se metiam, trocavam conselhos, tornarem-se grandes cúmplices. E quando lembravam do início, riam e repetiam que não tinha mesmo nada a ver, que estavam melhor assim.Um dia ela conheceu alguém, ele deu a maior força. Ela se apaixonou, casou e mudou de cidade, foram morar em São Paulo, tentar a sorte por lá. Junto, levou o carinho do amigo e votos de felicidades. Por algum tempo ainda se falaram, depois os contatos foram rareando e por fim terminaram. As lembranças foram se tornando pálidas, esmaecidas, como as folhas que caem das árvores nos dias de outono. A primavera entre eles havia terminado.Alguns anos depois, ele chegou em casa do trabalho e viu a luz da secretária piscando. Reconheceu de imediato a voz, mesmo após tantos anos. O timbre era o mesmo. Foi tomado por uma emoção súbita, o coração palpitou tão alto que nem permitiu ouvir o recado direito. Teve de voltar a mensagem algumas vezes.Ela estava de volta! O amor acabou, aconteceram algumas traições, ela concluiu que traição maior com ela mesma seria manter o casamento apenas por covardia. Afinal, não tiveram filhos, ela se tornara uma executiva graduada em um dos maiores grupos de comunicação do país; poderosa, sempre dispôs sobre a vida de tantos a seu serviço, resolveu que poderia dispor da sua própria vida também. E ele, como estava? Casado, solteiro... poderiam se encontrar, falar dos velhos tempos?Ele anotou afoitamente os números do celular que ela ditou e discou imediatamente. A emoção quase o sufocou quando ela atendeu dizendo: “- Olá, meu amigo! Que bom que você ligou!”. Ela disse que estava temerosa, não sabia mais nada sobre ele, talvez estivesse casado, com filhos... talvez não tivesse interesse em a encontrar...Ele deu uma gargalhada. Era muito bom tê-la de volta, de onde ela tirou aquelas bobagens todas? Como fazê-la entender que jamais a esquecera? Não, não tinha casado, não, não teve filhos também, sim, sim, queria revê-la, claro que sim!!!Marcaram para as dez horas, ele a buscaria no hotel em que se hospedara. Quando desligou, não conseguia parar de gritar, ensaiou uns passos de dança, riu muito!!!! Ela estava de volta, eles iriam sair juntos. Ela, depois de tantos anos, sua melhor amiga, sua confidente, sua irmã. Ela.Tomou um banho demorado, caprichou na barba, usou aquela loção importada que guardava para noites especiais, vestiu a sua melhor roupa. Na garagem, hesitou antes de entrar no carro, um modelo popular, antigo, que já nem era mais produzido. Pensou, mas achou que se ruim era chegar com aquele carro, pior seria chegar de táxi. Entrou, ligou o motor e saiu afobado, cantando pneus. Estava quase na hora.No saguão do hotel, pediu para avisar que a estava esperando embaixo. Os minutos que passou ali em pé aguardando pareciam intermináveis, valeram por horas de esforço, tiveram cores de sofrimento. Quando a porta do elevador abriu e ela apareceu, desapareceu como por encanto o peso de toda aquela espera, de todos aqueles anos em que se sentira meio órfão, abandonado, largado na vida, em que mesmo sem se dar conta a buscara em cada mulher com quem se relacionou .Ela estava deslumbrante. Não pela roupa, até que bem simples, apesar de ser de marca, apenas um jeans, uma blusa e sandálias. O deslumbre estava na luz que emanava do seu sorriso, do calor que brotava dos seus olhos. No abraço que deram, pareciam se fundir; não fossem fortes e seus corações teriam derretido ali, tamanho o calor que aquele abraço proporcionou. Riam sem parar, como duas crianças. Só conseguiam murmurar: “-você está ótimo!”; “- você também!”.Resolveram procurar algum point das antigas para relembrar e não encontraram nenhum. Perceberam que a Vida sinalizava com o novo para eles, e desistiram de tentar pautar o passado. Foram para um restaurante da moda, muito badalado, comeram, beberam, riram. Brincaram com as suas histórias, troçaram de suas vidas, riram de como a vida brincara com eles. Na hora de pagar a conta, ela puxou a nota para si, disse que era algo que sempre quis fazer, pagar a conta para um homem! Ele sorriu sem graça, mas no íntimo ficou aliviado, aquele restaurante estava muito acima do que poderia bancar. E aceitou rindo, fazendo um gestual de tudo bem, como se entendesse e aceitasse apenas como brincadeira.Tarde da noite, saindo do restaurante, ela disse que queria dançar. Foram para uma boate, dançaram afastados, beberam, dançaram juntos, beberam mais, se beijaram. Foi como se uma represa se rompesse; águas antes paradas, serenas, se transformaram em um caudal de sentimentos, em rodamoinhos de fúria louca, de gemidos, gritos, mordidas, amassos. Não podiam mais resistir à pressão daquelas águas por tanto tempo estagnadas, libertas de súbito e transformadas em corredeiras de paixão. Aquelas águas só parariam ao chegarem ao mar.E assim foi. Foram para a praia, tiraram as roupas e mergulharam nus, de mãos dadas. Após o mergulho no mar, mergulharam fundo um no outro, se amaram e se possuíram como se tivessem tomando posse de algo que sempre souberam ser deles. Algo que antes não quiseram ou não puderam entender, mas que agora queriam e precisavam como se dele dependessem para continuar vivendo. Algo essencial.Já estava amanhecendo quando ele a deixou no hotel. Riram do estado das suas roupas, fizeram piadas sobre o que o pessoal da recepção iria pensar. Trocaram mais um beijo, ela desceu do carro, deu mais um sorriso, virou de costas e entrou. Ele respirou fundo, sorriu, ligou o motor e foi para casa. Precisava tomar um banho rápido, tinha menos de duas horas para chegar no trabalho. Ele batia ponto, não podia atrasar.Aquele dia não rendeu nada. Ele não conseguia se concentrar. Tudo o que fazia era repassar a noite anterior, várias e várias vezes. Os colegas davam risadas, diziam que ele estava com um sorriso estranho! E cada vez que diziam isso, o sorriso mais se expandia na sua face.Um pouco antes do fim do expediente, ligou para o hotel. Certamente ela já estava acordada, e queria combinar de se encontrarem novamente. Ao pedir o nº do quarto dela, a resposta que ouviu o acertou como um murro na cara, jogando longe aquele sorriso que parecia tão fortemente plantado em seu rosto. Ela partira.Mandou fechar a conta um pouco antes do meio-dia; mandou pedir um táxi para levá-la ao aeroporto; não, não deixara nenhuma mensagem. Sim, com certeza, verificara novamente e não havia nenhuma mensagem para ele. Ligou para sua própria casa, na esperança de que ela tivesse deixado alguma mensagem, e a secretária eletrônica, ao atender apenas no quinto toque, já lhe deu a resposta. Nenhuma mensagem.Ficou sem chão, sua visão turvou, lágrimas brotaram com tal intensidade que nenhum dique poderia reter. Alguns colegas acudiram, pensando se tratar de algum mal súbito. Sem nada explicar, pegou o seu paletó na cadeira e saiu apressado. Precisava andar, buscar ar, não conseguia mais respirar.Ficou andando pelas ruas, sem rumo, até alta madrugada. Finalmente cansado, abatido, vencido pela noite anterior aliada à dor daquele dia, resolver se render e voltar para casa.Ao chegar, não encontrou nos bolsos as chaves. Devia ter esquecido no escritório. Morava em um prédio antigo, que só tinha um porteiro e este ficava na portaria até as oito da noite. Depois desse horário, cada morador que quisesse entrar em casa tinha de abrir o portão sozinho. Sem alternativa, tocou a campainha da casa do porteiro; a esposa dele fazia a faxina do seu apartamento e poderia lhe emprestar a chave. Ao ouvir a voz sonolenta dizendo alô, pediu desculpas, deu uma explicação qualquer e esperou. Passados alguns instantes, o porteiro apareceu e abriu o portão.Junto com a chave do apartamento, entregou um maço de rosas. Disse que entregaram por volta das quatro, e que para não deixar morrer, a sua mulher levara para a casa deles e colocara num jarro. Grampeado no papel que envolvia as rosas, havia um envelope.Acelerando o passo, correu para casa, arrancou nervosamente o envelope, abriu e começou a ler a carta que tinha dentro. A ansiedade foi se transformando novamente em sorriso. Um grande sorriso, cada vez mais largo.Na carta, ela dizia que logo após tê-lo rejeitado naquela vez em que se conheceram, ao se transformarem em amigos, foi aos poucos o conhecendo e criando admiração por ele; que em pouco tempo, aquela admiração se transformara em amor. Mas, como ele nunca mais tentara nada, como passou a tratá-la como amiga, acreditava que o sentimento dele havia morrido, e não tivera coragem de se expor, de se abrir.Quando conheceu o seu ex-marido, falou sobre ele na esperança de ver alguma reação, ainda que tênue, no seus olhos, na esperança de ouvir algo do tipo “-você pertence a mim, não a ele!”. O que ouviu foram palavras de estímulo, que fosse fundo, o cara parecia legal... e ela foi, por pura desistência de continuar a tentar. Por se sentir incapaz de fazê-lo entender o que lhe ia na alma.Durante os anos de casada, passava o tempo todo comparando os dois, o gestual, o emocional... se perguntava como teria sido se tivesse feito sexo com ele. E para fugir da armadilha de um casamento sem calor, se lançara de corpo e alma no trabalho, fizera da carreira a sua razão de vida.E finalmente achou que não podia mais, que precisava saber. Terminou o casamento e começou a viagem em busca de si mesma, permitiu-se singrar os mares de retorno em busca do seu porto seguro. Precisava saber se esse porto existia, ou se fora apenas devaneios de juventude.A noite passada tivera diferentes gostos para ela. Por um lado, o sabor da comprovação daquilo que sempre soubera: foram feitos um para o outro. Por outro lado, a tristeza de tantos anos desperdiçados por medo de se assumir, de correr o risco de se declarar. Hoje sabia o quanto fora tola. Nenhuma carreira, nenhum sucesso ou reconhecimento profissional poderia pagar o que sentira na noite passada. Não tinha preço a sensação de finalmente se saber pertencer a alguém. Seu dono. Seu homem.E por isso resolveu partir. Estava voltando para São Paulo, para varrer da sua vida o resto do entulho que a manteve imobilizada por tantos anos. Precisava romper as amarras profissionais para se sentir livre. Iria conversar sobre alguma possível função na filial do Rio de Janeiro, mas mesmo que não conseguisse, viria assim mesmo. Sabia que ele tinha uma vida apertada, mas o que ela ganhara e juntara durante todos aqueles anos era o suficiente para proporcionar conforto a ambos. Assim que acertasse os ponteiros com seu passado, iria acertar o seu relógio para começar a marcar o tempo de uma nova vida, e desta vez ao seu lado. O compasso binário do velho relógio de cuco marcaria o ritmo da nova vida a dois. E eles seriam apenas um. Finalmente.Que ele tivesse só um pouco mais de paciência e a aguardasse. Ainda viveriam muitas vezes a noite passada. Ainda teriam muito o que conversar about last night."

domingo, 23 de março de 2008

"Goste de alguém que te ame, alguém que te espere, alguém que te compreenda mesmo nos momentos de loucura.De alguém que te ajude, que te guie, que seja seu apoio, tua esperança, teu tudo.Goste de alguém que não te traia, que seja fiel, que sonhe contigo, que só pense em ti, no teu rosto, na tua delicadeza, no teu espírito; E não só no teu corpo, nem em teus bens.Goste de alguém que te espere até o final, de alguém que sofra junto contigo, que ria junto a ti, que enxugue tuas lágrimas; Que te abrigues quando necessário, que fique feliz com tuas alegrias e que te dê forças depois de um fracasso.Goste de alguém que volte para conversar depois da briga, depois do desencontro. De alguém que caminhe junto a ti, que seja companheiro, que respeite tuas fantasias, tuas ilusões.Goste de alguém que te ame.Não goste apenas do amor.Goste de alguém que sinta o mesmo por vc."
William Shakespeare
"Cada um tem de mim exatamente o que cativou, e cada um é responsável pelo que cativou, não suporto falsidade e mentira, a verdade pode machucar, mas é sempre mais digna. Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com intensidade. Perder com classe e vencer com ousadia, pois o triunfo pertence a quem mais se atreve e a vida é muito para ser insignificante. Eu faço e abuso da felicidade e não desisto dos meus sonhos. O mundo está nas mãos daqueles que tem coragem de sonhar e correr o risco de viver seus sonhos.Pessoas com energia positiva e alto astral são sempre bem vindas e que não existe coisa melhor no mundo do que viver,curtir e gozar a vida, que passa rápido e daqui não levaremos nada, a não ser toda a experiência e as amizades".
Charles Chaplin.
"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos,na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.A dor é inevitável. O sofrimento é opcional."
Carlos Drummond de Andrade.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Células-tronco: o que são e para que servem

Elas são de diversos tipos e um verdadeiro tesouro, pois podem originar outros tipos de células e promover a cura de diversas doenças como o câncer, o Mal de Alzeimer e cardiopatias. Estamos falando das células-tronco, foco de discussões entre cientistas, leigos e políticos.
O fato é que a legislação brasileira sobre pesquisas com células-tronco de embriões humanos, já aprovada no Congresso Nacional, permite o uso dessas células para qualquer fim. Mas a lei de Biossegurança aguarda aprovação na Câmara dos Deputados. E muita polêmica ainda pode surgir, já que a Igreja e outros grupos são contra a utilização de células-tronco embrionárias.
Para explicar o que é e para que serve a célula-tronco, entre outros temas, Alexandra Vieira, farmacêutica e bioquímica, pesquisadora da Fundação Zerbini/INCOR, em São Paulo, concedeu esta entrevista exclusiva ao Terra. Confira!
Terra: O que são células-tronco?
Alexandra: De forma bem simplificada, células-tronco são células primitivas, produzidas durante o desenvolvimento do organismo e que dão origem a outros tipos de células. Existem vários tipos de células-tronco: 1. Totipotentes - podem produzir todas as células embrionárias e extra embrionárias; 2. Pluripotentes - podem produzir todos os tipos celulares do embrião; 3. Multipotentes - podem produzir células de várias linhagens; 4. Oligopotentes - podem produzir células dentro de uma única linhagem e 5. Unipotentes - produzem somente um único tipo celular maduro. As células embrionárias são consideradas pluripotentes porque uma célula pode contribuir para formação de todas as células e tecidos no organismo.
Terra: Para que servem as células-tronco?
Alexandra: Uma das principais aplicações é produzir células e tecidos para terapias medicinais. Atualmente, órgãos e tecidos doados são freqüentemente usados para repor aqueles que estão doentes ou destruídos. Infelizmente, o número de pessoas que necessitam de um transplante excede muito o número de órgãos disponíveis para transplante. E as células pluripotentes oferecem a possibilidade de uma fonte de reposição de células e tecidos para tratar um grande número de doenças incluindo o Mal de Parkinson, Alzheimer, traumatismo da medula espinhal, infarto, queimaduras, doenças do coração, diabetes, osteoartrite e artrite reumatóide.
Terra: Onde as células-tronco podem ser encontradas?
Alexandra: Em embriões recém-fecundados (blastocistos), criados por fertilização in vitro - aqueles que não serão utilizados no tratamento da infertilidade (chamados embriões disponíveis) ou criados especificamente para pesquisa; embriões recém-fecundados criados por inserção do núcleo celular de uma célula adulta em um óvulo que teve seu núcleo removido - reposição de núcleo celular (denominado clonagem); células germinativas ou órgãos de fetos abortados; células sanguíneas de cordão umbilical no momento do nascimento; alguns tecidos adultos (tais como a medula óssea) e células maduras de tecido adulto reprogramadas para ter comportamento de células-tronco.
Terra: Qual é a diferença entre célula-tronco embrionária e célula tronco adulta?
Alexandra: Célula-tronco embrionária (pluripotente) são células primitivas (indiferenciadas) de embrião que têm potencial para se tornarem uma variedade de tipos celulares especializados de qualquer órgão ou tecido do organismo. Já a célula-tronco adulta (multipotente) é uma célula indiferenciada encontrada em um tecido diferenciado, que pode renovar-se e (com certa limitação) diferenciar-se para produzir o tipo de célula especializada do tecido do qual se origina.
Terra: Por que é bom armazenar o sangue do cordão umbilical da criança?
Alexandra: Porque no cordão umbilical se encontra um grande número de células-tronco hematopoiéticas, fundamentais no transplante de medula óssea. Se houver necessidade do transplante, essas células de cordão ficam imediatamente disponíveis e não há necessidade de localizar o doador compatível e submetê-lo à retirada da medula óssea.
Terra: As células-tronco podem ajudar na terapia de quais doenças? Como os tratamentos são feitos?
Alexandra: Algumas doenças que seriam beneficiadas com a utilização das células tronco embrionárias são: Câncer - para reconstrução dos tecidos; Doenças do coração - para reposição do tecido isquêmico com células cardíacas saudáveis e para o crescimento de novos vasos; Osteoporose - por repopular o osso com células novas e fortes; Doença de Parkinson - para reposição das células cerebrais produtoras de dopamina; Diabetes - para infundir o pâncreas com novas células produtoras de insulina; Cegueira - para repor as células da retina; Danos na medula espinhal - para reposição das células neurais da medula espinal; Doenças renais - para repor as células, tecidos ou mesmo o rim inteiro; Doenças hepáticas - para repor as células hepáticas ou o fígado todo; Esclerose lateral amiotrófica - para a geração de novo tecido neural ao longo da medula espinal e corpo; Doença de Alzheimer - células-tronco poderiam tornar-se parte da cura pela reposição e cura das células cerebrais; Distrofia muscular - para reposição de tecido muscular e possivelmente, carreando genes que promovam a cura; Osteoartrite - para ajudar o organismo a desenvolver nova cartilagem; Doença auto-imune - para repopular as células do sangue e do sistema imune; Doença pulmonar - para o crescimento de um novo tecido pulmonar.
Terra: Os tratamentos são muito caros?
Alexandra: Sim. Para se ter uma idéia dos valores seguidos nos Estados Unidos, coleta e processamento das células do cordão umbilical custam U$ 1.325 e a estocagem anual das células em nitrogênio líquido U$ 95 por ano. Terapia celular para doadores autólogos, isto é, que usam sua própria medula óssea como fonte de células-tronco, aproximadamente U$ 80 mil e, se for transplante celular alogênico, isto é, de células provenientes de um doador compatível que não ele próprio, de U$ 90 mil a US$ 150 mil. A procura por um doador compatível varia de U$ 7 mil a U$ 9 mil.
Terra: No Brasil, onde já se faz tratamentos com células-tronco?
Alexandra: Aqui, os tratamentos com células-tronco são feitos apenas em grandes centros de pesquisa, como os grandes hospitais e somente para pacientes que assinam um termo de consentimento e concordam em participar desses estudos clínicos.
Recentemente, o Ministério da Saúde aprovou um orçamento de R$ 13 milhões em três anos para a pesquisa das células-tronco da qual participam alguns grandes hospitais brasileiros como o Instituto do Coração - SP, Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras - RJ, entre outros. Serão estudadas as cardiopatias chagásicas (decorrente da doença da Chagas), o infarto agudo do miocárdio, a cardiomiopatia dilatada e a doença isquêmica crônica do coração.
Como a terapia utiliza células-tronco autólogas, o estudo não sofre influência da Lei de Biossegurança, recém-aprovada no Senado. Além dessa grande pesquisa, o Brasil está investindo em terapia com células-tronco voltada a outras doenças, como é o caso da distrofia muscular, esclerose múltipla, câncer, traumatismo de medula espinhal, diabetes etc.
Terra: Qual é o futuro da terapia com células-tronco?
Alexandra: Alguns objetivos que seriam alcançados com a utilização da terapia com as células-tronco são: Compreensão dos mecanismos de diferenciação e desenvolvimento; Identificação, isolamento e purificação dos diferentes tipos de células tronco adultas; Controle da diferenciação de células-tronco para tipos celulares alvo necessários para o tratamento das doenças; Conhecimento para desenvolver transplantes de células-tronco compatíveis; Nos transplantes de células-tronco: demonstração do controle apropriado do crescimento, bem como a obtenção do desenvolvimento e função de célula normal; Confirmação dos resultados bem-sucedidos dos animais em seres humanos.
Terra: Quais são os argumentos dos cientistas, do ponto de vista ético, para defender o uso das células-tronco?
Alexandra: 1. Células tronco embrionárias possuem o atributo da pluripotência, o que quer dizer que são capazes de originar qualquer tipo de célula do organismo, exceto a célula da placenta. 2. Sabe-se que 90% dos embriões gerados em clínicas de fertilização e que são inseridos em um útero, nas melhores condições, não geram vida. 3. Embriões de má qualidade, que não têm potencial de gerar uma vida, mantêm a capacidade de gerar linhagens de células-tronco embrionárias e, portanto, de gerar tecidos. 4. A certeza de que células-tronco embrionárias humanas podem produzir células e órgãos que são geneticamente idênticos ao paciente ampliaria a lista de pacientes elegíveis para tal terapia. 5. É ético deixar um paciente afetado por uma doença letal morrer para preservar um embrião cujo destino é o lixo? Ao utilizar células-tronco embrionárias para regenerar tecidos de um paciente não estaríamos criando uma vida?
Terra: Em quais países já é permitido usar células-tronco?
Alexandra: Inglaterra, Austrália, Canadá, China, Japão, Holanda, África do Sul, Alemanha e outros países da Europa.
Segunda-feira, 10 de março de 2008.
Fonte: O Estado de São Paulo.

Nobel defende pesquisas com células-tronco embrionárias
Alexandre Gonçalves

O ganhador do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 2007, Oliver Smithies, afirmou ontem em São Paulo que “um país que não tomar parte (nas pesquisas com células-tronco embrionárias) perderá a oportunidade de oferecer sua contribuição à humanidade”. O comentário foi feito no Parque do Ibirapuera, antes de uma palestra sobre sua experiência de 60 anos como biólogo molecular.Na quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o julgamento sobre a constitucionalidade da utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas por causa do pedido de vista do ministro Carlos Alberto Direito. O assunto só voltará para a fila de matérias a serem apreciadas em até 30 dias.Para o ministro Marco Aurélio Mello, um dos 11 membros do STF, a diferença dos votos contra ou a favor das pesquisas deverá ser muito pequena - “de um ou dois”. Smithies espera que o STF adote uma nova perspectiva diante do problema ético suscitado pelas pesquisas. “Existe muita discussão sobre matar embriões. Mas, na verdade, trata-se de preservar a vida do embrião.” E esclarece seu ponto de vista com um exemplo. “Se eu morresse em um acidente de carro, algumas partes do meu corpo poderiam ser transplantadas. Desta forma, parte de mim continuaria vivendo em outras pessoas.”O cientista acredita que os primórdios de qualquer campo de pesquisa costumam ser controversos, mas, com o tempo, as restrições, inclusive religiosas, tendem a diminuir e desaparecer. Em contraposição, o papa Bento XVI reafirmou ontem, em uma homilia para 200 jovens na igreja romana de São Lourenço, o valor incondicional da vida humana. “O homem é sempre homem com toda a sua dignidade, mesmo se estiver em estado de coma, mesmo se for um embrião”, disse.Segundo Bento XVI, a ciência e, de um modo particular a medicina, representa uma grande luta pela vida, mas, mesmo se descobrissem a “pílula da imortalidade”, seriam incapazes de satisfazer a sede de eternidade latente no homem. “Imaginemos o que aconteceria com uma vida biológica imortal. Surgiria um mundo envelhecido, um mundo sem espaço para a juventude, para o novo. Esta não pode ser a imortalidade que desejamos”, afirmou.ANIMAISSmithies também é favorável à utilização de cobaias nas pesquisas científicas, desde que fique comprovada a relevância dos estudos para o conhecimento científico. Hoje, o pesquisador participará da abertura do 1.º Simpósio Brasileiro de Tecnologia Transgênica, organizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

COLABOROU JOÃO NAVES